sexta-feira, 28 de junho de 2013

VOODOOPRIEST: EM BUSCA DE NOVOS HEADBANGERS PARA VOODOOZAR

Vitor Rodrigues concede entrevista ao Over Metal e fala dos planos do Voodoopriest, além de suas experiências enquanto integrante do Torture Squad e motivos da saída.  Numa conversa objetiva falamos até sobre  questões relacionadas ao índios no Brasil.  Entenda o por que nesta entrevista.

Rafael Arízio (R.A.) - O que aconteceu para você ter que sair do Torture Squad depois de tantos anos na banda?
Vitor Rodrigues (V.R.) – Senti que era o momento para novos desafios.

R.A. - Qual foi a emoção de ganhar o Metal Battle no Wacken?
V.R. – Indescritível. Com certeza foi um dos pontos altos da minha carreira até o momento. Esse ano fará seis anos dessa conquista, e a emoção continua com a mesma intensidade.
R.A. - O que isso representou para a banda na época?
V.R. – Abriu muitas portas e possibilitou para a banda um reconhecimento internacional. O Torture Squad voltou em 2008 como uma das atrações especiais do festival, e em 2009 rolou uma turnê com as bandas Gama Bomb, Exodus e Overkill. Em 2011, retornamos pela terceira vez ao festival.

R.A. - Como que se deu a formação do Voodoopriest?
V.R. – Após o anúncio da minha saída do Torture Squad, recebi muitas palavras de apoio dos fãs e convites para integrar determinadas bandas. Junto a isso, vários músicos me mandaram material. Um deles foi o César Covero, e mais tarde o Renato De Luccas, que após ser escolhido para tocar no Voodoopriest, chamou o Bruno Pompeo para o baixo. Na bateria, o Marcos do Claustrofobia meu deu um toque sobre o Edu Nicolini, então entrei em contato com ele e a formação estava pronta.
R.A. - Como tem sido a resposta do público com o Voodoopriest até agora?
V.R. – A resposta está sendo extremamente satisfatória, diria com toda a certeza que superou todas as nossas expectativas. Mesmo com poucos shows feitos, nota-se um feedback muito bom das pessoas.

R.A. - Você parece ter um lado bem espiritual ligado à cultura indígena, como se deu isso na sua vida?
V.R. – Eu convivo com isso muito antes de eu ter nascido. Meus antepassados, principalmente por parte de mãe, eram índios da nação Kamakan, mas com a invasão dos bandeirantes e fazendeiros na região de Vitória da Conquista (BA). Muitos deles foram massacrados e outros foram escravizados, principalmente as mulheres e crianças. Minha tataravó era índia das mais bravas e, por ser “selvagem” foi pega com rede. Pelos relatos da minha mãe, ela morava na caatinga, numa casinha de sapé e vivia do que plantava. Minha mãe cresceu nessa casinha e quando era viva me contava histórias de batalhas entre os próprios índios de nações diferentes, histórias passadas oralmente de geração a geração.

R.A. - Qual a sua opinião ao tratamento dado hoje em dia ao povo indígena no Brasil?
V.R. – Vergonhoso. Já li comentários de uma pessoa dizendo que se não houvesse a ação dos bandeirantes, a família dela não existiria e conseqüentemente ela também. Discordo totalmente disso. Existiria sim, e num país que respeitaria mais a terra e os seres que nela habitam. Seríamos o maior país indígena no mundo, mas infelizmente não é isso que vimos na realidade. O holocausto custou a vida de mais de 5 milhões de judeus, só que o maior genocídio foi o indígena. Os “descobridores” da América simplesmente deram cabo de mais de 15 milhões de índios somando todo o continente. Sem contar que no século XVII, 1.300.000 negros foram arrancados de suas tribos, colocados em navios, onde 40% deles morriam ao longo da viagem. Perdemos o respeito com os nossos antepassados substituindo pela filosofia do mais forte, ou seja, um pensamento totalmente primitivo.

R.A. - Qual a sua opinião sobre o conflito que ocorreu no norte do Brasil entre índios e fazendeiros.
V.R. – Vergonhoso. Vivemos numa sociedade que lembra muito a época da degeneração na Grécia antiga, a filosofia do pão e circo, ou seja, esperam que tudo vai cair do céu, esperam ser ajudados, não são incentivados a pensar, raciocinar, criticar... Reclamam da boca pra fora porque querem fazer parte daqueles que “lutam” por melhorias, mas quando é pra colocar a mão na merda... dissimulam. E tudo é um círculo vicioso, onde o povo não está nem aí, temos TV e é isso que nos importa. Temos um deus que perdoa todas as atrocidades, roubalheiras que eu fizer. Temos políticos coniventes com toda a maracutaia existente no governo. Isso tudo resultado da falta de investimento em educação. Não quero ser político ou me candidatar, mas aprendam uma coisa... nossos políticos são nossos FUNCIONÁRIOS! Você tem que exigir sim que eles cumpram com as necessidades de uma comunidade, de um povo, de uma nação. O voto está aí pra isso, mas infelizmente vejo que o voto nada mais é que um truque para você dar aval a mais um bandido no governo, porque se o voto realmente mudasse algo, ele seria proibido. Mexer na questão índios versus fazendeiros é mexer em um vespeiro porque muito se falava da reforma agrária nos meus tempos de moleque, e até hoje isso não foi resolvido. O interesse deles são outros, e o índio que estava aqui antes do estrangeiro chegar, está perdendo seu espaço a cada dia. Falta senso de justiça. Vergonhoso.


R.A. - E qual sua opinião sobre a expulsão dos índios no Museu do índio no Maracanã.
V.R. – Vergonhoso. Prova cabal do interesse em lucrar, lucrar e lucrar, não importa como e por que, mas de alguma forma ludibriar e tripudiar em cima das necessidades do povo. Já não basta o povo sem cultura, tem que roubar. Não sei aonde vão parar com tanta violência e desrespeito contra o índio.

R.A. - O EP de estréia da banda está ótimo, como que foi o processo de composição da banda?
V.R. – Muito grato pelo elogio, e o processo foi rápido. Eu tinha duas músicas compostas – melodia e letra – e o Renato De Luccas tinha mais uma. Ele juntou outras idéias com as que o César Coveiro tinha, e finalizaram mais duas músicas. Tivemos poucos ensaios e já entramos em estúdio. Foi uma experiência bacana porque surgiram muitas idéias na hora da gravação. A real é que todos participam no processo de composição do Voodoopriest, com idéias de arranjo em cima de uma idéia principal trazida por algum membro da banda. É assim que funciona a coisa.

R.A. - A gravação foi no Norcal estúdio em São Paulo, como foi à escolha desse estúdio?
V.R. – Já tinha trabalhado com o Brendan Duffey e o Adriano Daga no Aequilibrium, e daí formou-se uma grande amizade. Foi de certa forma natural a escolha do Norcal Studio para que gravássemos o Ep do Voodoopriest. O Brendan me auxiliou e muito nas letras, principalmente na parte da pronúncia, já que ele é americano, e tanto ele como o Adriano Daga sempre vinham com idéias muito boas que só enriqueciam as músicas do Voodoopriest.


R.A. - Recentemente a banda lançou seu primeiro clip para a música Juggernault, como foi a escolha da música para o clip e como tem sido a recepção dele até agora. A banda pretende lançar mais vídeos?
V.R. – A música Juggernaut é simples e direta e queríamos um clipe assim. O pessoal do Kaiowas Studios conseguiu captar de maneira magistral essa idéia e fizeram um clipe sensacional, mas sou suspeito em falar (risos). A recepção está sendo fantástica, e pretendemos na medida do possível lançar mais clipes sim.

R.A. - A banda tem previsão de lançar um disco inteiro? Tem alguma data prevista ou já iniciaram à gravação ou composição do material?
V.R. – Estamos compondo bastante, e já temos um bom material, creio que se tudo der certo poderemos entrar ainda esse ano para gravar o primeiro álbum full do Voodoopriest, mas ainda são suposições. Queremos fazer as coisas tranquilamente e sem pressão nenhuma.

R.A. - Com a experiência que vocês têm qual a avaliação que fazem do atual momento da cena brasileira?
V.R. – O atual momento é bom. Antigamente tínhamos que ir atrás de vinil e CDs, e quem tinha os CDs emprestava pra gente gravar em fitas K-7. Tenho centenas delas até hoje. Shows também eram precários, não tínhamos equipamentos de primeira linha, mas hoje a coisa toda está mais fácil. Você pode gravar um álbum usando uma placa de som no notebook, ou até mesmo enviando suas gravações via internet para qualquer lugar do mundo, sem falar nos downloads, mas mesmo assim o cenário está sempre em ebulição. O underground nacional é rico e, mesmo sem o apoio das grandes mídias, sempre estão surgindo muitas bandas. É o metal brasileiro forte e incansável, e um dia viramos a mesa!

R.A. - Recentemente aqui na região sul do estado do Rio de Janeiro, as bandas mais atuantes da cena se uniram para organizar seus próprios shows numa turnê chamada  “Metal Bastards Union", devido à precariedade e falta de boa estrutura, além de desgastes com promotores da região. O que vocês acham dessa iniciativa?
V.R. – Cara, acho bacana iniciativas como essa porque servem para fortalecer a cena. O que não concordo é, promotores brigarem entre si. Porque a banda fica numa espécie de fogo cruzado e quem perde é o público e a cena local. O Metal está acima de tudo isso, mas atitudes como essa, de desunião, vão a cada dia me desiludindo. O Wacken, o festival mais antigo da Europa foi concebido por 3 promotores da região que se uniram. Tudo começou quando os três se reuniam em um terreno com seus carros e ficavam lá ouvindo som, bebendo sua cerveja com os amigos, e aquilo foi crescendo, crescendo até os dias de hoje, onde o festival movimenta 80.000 pessoas todo ano. Detalhe: a cidade de Wacken tem 2.000 habitantes. Essa frase “A União Faz a Força” é um chavão, mas ela é uma verdade absoluta e gostaria que todos seguissem essa filosofia. Tudo é diálogo. Diálogo e respeito.


R.A. - Cite 10 álbuns que são clássicos e sempre foram grandes referências para você.
V.R.
Judas Priest (Painkiller)
Black Sabbath (Heaven and Hell)
Nevermore (Dead Heart In a Dead World)
Carcass (Heartwork)
Slayer (Reign In Blood)
Anthrax (Among The Living)
Morbid Angel (Altars Of Madness)
Sepultura (Arise)
Iron Maiden (Powerslave)
Pantera (Vulgar Display Of Power).

R.A. - O que a banda traçou para o restante de 2013?
V.R. – No momento nossas prioridades são ensaiar, e fazer shows, e no meio disso tudo estamos compondo também. O plano primordial, o grande objetivo do Voodoopriest é ser reconhecido internacionalmente. Mas para atingir essa meta, precisamos firmar o nome aqui no Brasil. Apesar de atuantes na cena, estamos começando do zero e até você ser reconhecido vai demandar certo tempo, mas estamos confiantes e curtindo essa nova experiência.

R.A. - Próximas agendas/turnês?
V.R. – Estamos conversando com os promotores de todo o país. Lançamos um EP que foi muito bem recebido pela crítica e pelo público, e estamos doidos pra mostrar nossa música para os headbangers do Brasil.

R.A. - Considerações finais e recados para os leitores.
V.R. – Primeiramente quero agradecer a você Raphael e ao Over Metal Zine e desejo muito sucesso a todos. Aos headbangers o meu mais sincero MUITO OBRIGADO, pois se estou aqui é graças aos fãs e admiradores do meu trabalho. Sou muito grato por essa energia e espero encontrá-los novamente e voodoozar todos vocês!
VOODOOPRIEST


Entrevista por Rafael Arizio - Over Metal

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